sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Análise Política das Eleições de 2015 para o DCE da UFRGS

Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*

Quem é mais louco, o louco ou quem o segue?
Ocorreram nos dias 24, 25 e 26 de novembro as eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DCE/UFRGS). Com uma participação baixíssima, representada pelo quórum de apenas 15,69% dos estudantes, estas eleições mostram, sobretudo, o afastamento dos estudantes de sua entidade máxima representativa, grande parte devido ao distanciamento do DCE dos reais interesses dos estudantes e, também, em razão da baixa qualificação dos candidatos, que neste ano se resumiram basicamente à politiqueiros e “estudantes profissionais”, que são sabidamente repudiados pela maioria do estudantado.

O grupo vencedor foi aquele representado pela Chapa 5 – “Lado a lado somos muito mais”, que era composto principalmente pelos integrantes da atual gestão do DCE da UFRGS, que possui estreitos laços com o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e dentro da universidade se articula através do coletivo Juntos. Os votos, todavia, se mantiveram dentro da margem dos anos anteriores, contabilizando 1705 votantes e reforçando a existência de um público fiel desta chapa. Assim, quem quer que deseje superar este grupo já deve traçar suas estratégias visando angariar mais votos que estes representados por essa massa fixa, análise que faltou para o segundo colocado no pleito.

Na outra ponta, representando os grupos ideologicamente alinhados com a direita e com os liberais da UFRGS, tivemos a Chapa 4 – Novo DCE, que incorreu em erros crassos e, por isso, teve uma das mais baixas votações da história da direita na UFRGS, obtendo meros 1405 votos. Para começar, a chapa foi presidida por um indivíduo pouco expressivo, sem carisma e mal articulado, escolhido mais por critérios políticos, a fim de agradar o partido que estava financiando a chapa, do que por critérios estratégicos. Ainda, também contou com uma assessora de um deputado como Vice-Presidente e, pasme-se, com um vereador na nominata. Basicamente, uma fórmula pronta para se perder as eleições.

A votação para a diretoria executiva do DCE da UFRGS é de participação facultativa, o que faz com que os estudantes somente participem se sentirem-se estimulados a participar. Nos grupos de esquerda, esta motivação é ideológica. O fervor doutrinário faz com que os alunos se dirijam para as urnas com o intuito de manter na direção da entidade aquilo que corresponde à sua visão de mundo, mesmo que esta não tenha nenhum tipo de relação com a Academia. Contudo, quando se trata de estudantes com uma visão liberal-conservadora, a ponderação em relação à participação se dá sob outro foco, qual seja: o quão determinado grupo pode ser útil, em termos práticos, para o bem estar do votante dentro da sala de aula. Pesa nesta ponderação uma medida de relatividade que avalia o quanto a gestão pode colaborar com o aluno em detrimento dos próprios interesses pessoais dos gestores. Desta forma, por mais que uma chapa tenha boas propostas, se ela passar uma impressão de que pode trabalha mais nos interesses pessoais dos gestores do que na efetiva implementação do proposto, o aluno com visão liberal-conservadora deixará de votar. Foi exatamente o esquecimento deste fator o pecado capital que aniquilou a Chapa 4.

Em primeiro lugar, o aluno escolhido para presidir a Chapa 4 foi um indivíduo que não passava confiança aos estudantes. Bastava poucos minutos de conversa para se ter a impressão de que ele era uma pessoa extremamente maleável e manipulável, isto é, alguém que não teria pulso firme suficiente para defender os interesses dos estudantes, sobretudo quando estes se chocassem com os interesses do partido que capitaneava a Chapa 4, no que entramos na questão do segundo ponto fraco da Chapa 4, que foi justamente a vinculação aos partidos políticos. Ao se colocar na nominata uma assessora de um deputado e um vereador, se passa a impressão de que a chapa buscará primeiramente atender as demandas e os interesses destes políticos, para só depois, se sobrar tempo, atender as demandas dos estudantes. Isto é um fator altamente desmotivador para o votante, pois passa a impressão de que, ao se dirigir às urnas, ele não estará votando em alguém que irá defender seus interesses, mas sim em indivíduos que irão defender interesses estranhos, externos, enfim, partidários.

O fato é que a articulação da Chapa 4 foi feita por um indivíduo que assumidamente possui problemas mentais graves e, muito embora não tenha participado da nominata, foi quem de fato controlou toda a campanha e conseguiu somente obter o maior desastre eleitoral para a direita da UFRGS nos últimos anos. Com exceção de 2010, que aliás foi quando este indivíduo começou a participar mais ativamente do Movimento Estudantil da UFRGS, nunca uma chapa ideologicamente alinhada com a visão liberal-conservadora teve um desempenho tão ruim. Para além das estratégias furadas, outro fator preponderante para o enfraquecimento deste grupo é justamente os rachas internos, oriundos de picuinhas que possuem sempre um denominador comum, que é este indivíduo. Foi assim no racha de 2010, quando foram lançadas duas chapas DCE Livre, foi assim em 2011, quando este indivíduo rachou a direita em dois grupos, que juntos fizeram mais votos que a esquerda, mas que separados perderam as eleições, foi assim em 2012, quando a disputa de egos fez com que seus seguidores sequer conseguissem lançar uma chapa, foi assim em 2014, quando este indivíduo causou tantos rachas e brigas dentro da gestão “DCE de Verdade”, que esta sequer conseguiu se reeleger, e foi assim neste ano, quando diversos estudantes simplesmente abandonaram o grupo alinhado com a direita, por não aturarem mais este louco, no que por vezes é fundamental questionar: quem é mais louco, o próprio louco ou quem o segue?

Enfim, teremos mais um ano com a esquerda à frente do DCE da UFRGS e, infelizmente, atingimos um patamar, onde existem tantos rachas e tantas brigas entre os indivíduos de visão liberal-conservadora, que inexiste perspectiva de curto (ou até de longo) prazo para superar tamanho dano. As escolhas ruins, mais do que o empenho da esquerda, foram o que causou a derrota da direita e dos liberais nestas eleições.


*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é Cientista Atuarial pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS e Estatístico pelo Instituto de Matemática da UFRGS. Possui Pós-Graduação em Perícia e Auditoria pelo NECON/UFRGS. Foi Conselheiro no Colegiado do Departamento de Estatística, na Comissão de Graduação em Estatística e no Conselho do Instituto de Matemática da UFRGS. Foi Professor junto ao Departamento de Estatística da UFRGS nas disciplinas de Estatística Geral e de Probabilidade e Estatística. É fundador do Movimento Estudantil Liberdade e atualmente preside o grupo DCE Livre – Movimento Estudantil Liberdade.



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